Você acha que a série “Insatiable” da Netflix incentiva a gordofobia?

Mais de 200 mil pessoas assinaram a petição online pedindo ao Netlfix que cancelasse a série Insatible, que estreou na sexta-feira (10 de agosto). Essas pessoas acreditam que a série reforça a gordofobia, que é um sentimento de rejeição às pessoas gordas.

Na petição a ilustradora Florence Given, que iniciou a campanha contra a exibição da Netlix, escreveu “por muito tempo, as narrativas tentaram convencer as mulheres e jovens de que, para serem populares, terem amigos, serem desejáveis para o olhar masculino e, em certa medida, para ser um humano digno, é preciso ser magra”.

A série de humor negro interpretada pela atriz Debby Ryan, conta a história de uma adolescente obesa que sofre muito com o bullying feito pelos colegas de escola. Em uma noite ela toma um fora de um garoto bonito e popular do colégio e entra em uma briga com um morador de rua, leva um soco na mandíbula e depois de três meses de tratamento com dieta líquida ela retorna magra e decide se vingar de todos que a fizeram sofrer. Assista ao trailer. 

A crítica ao programa refere-se a hipótese de que ele mostra que a personagem só teve sucesso quando se tornou magra, reforçando o estigma contra as pessoas acima do peso.  Por outro lado, as atrizes da série se manifestaram dizendo que a comédia é uma oportunidade de se discutir o tema. Conversamos com a psicóloga Juliana Palma, do Instituto Baiano de Obesidade, sobre essa polêmica.

1 – Na sua opinião a ficção pode ajudar a levantar estas questões relacionadas ao sofrimento psicológico que os obesos sofrem ou realmente contribuem para estigmatizar ainda mais estas pessoas?

Ao longo da história fomos construindo várias formas de nos relacionar com nosso corpo, isso porque todas as questões que envolvem o corpo são influenciadas pela sociedade, cultura, religião, ciências e política, que nos direcionam a um ideal de “corpo perfeito’’.

Os meios de comunicação atualmente são um dos maiores influenciadores, incentivando a chamada “cultura da magreza’’. Na série em questão (Insatiable), vemos essa cultura sendo propagada como tema central, estigmatizando as pessoas com obesidade, incentivando jovens a serem “escravos’’ de um padrão corporal a fim de obterem aprovação e reconhecimento social.

Em vários trechos da serie é dito que “a magreza é mágica”, atribuindo a esta condição a solução de todos os seus problemas. Porém, vemos que ao longo da trama, mesmo “Patty”, a personagem principal, tendo alcançado o corpo desejado, os problemas ainda a acompanhavam e toda vez que se sentia vulnerável desejava recorrer a uma alimentação compulsiva como válvula de escape para suas frustrações internas, pois não tinha habilidades para enfrentamento e possuía crenças limitantes que bloqueavam seu processo de auto-aceitação.

A serie não dá a devida importância ao bullying que a personagem “Patty” sofria através da pratica da gordofobia por seus colegas da escola, na qual resultava em baixa autoestima, depressão e estresse, fatores que, por sua vez, aumentavam o desenvolvimento de hábitos alimentares ruins, sentimento de culpa pelo peso excessivo e pela discriminação social de que é vítima.
2- Quais os efeitos que o bullying sofrido por crianças e adolescentes podem causar no desenvolvimento delas?

No contexto escolar, a aparência física, segundo a pesquisa do Ipea, é o principal motivo de bullying em 38,5% dos casos. Sendo assim, a gordofobia se faz presente, mas não é problematizada e discutida como deveria. Ser alvo de preconceito na infância e adolescência pode resultar em baixa autoestima, depressão e baixo rendimento escolar devido ao estresse e fatores que aumentam as chances de manutenção de hábitos alimentares inadequados que podem perdurar na vida adulta.

Por essa razão, se torna importante dar o primeiro passo e abrir o canal de discussão para que seja possível pôr o tema em pauta e atuar de forma informativa, preventiva e contínua, ensinando as crianças pensamentos de tolerância e respeito às diferenças para o combate dessa forma de bullying.
3- Este desejo de vingança após o emagrecimento acontece com alguns pacientes?

Assim como na ficção da série em questão, o que percebo na prática clínica, trabalhando com pacientes com obesidade candidatos à cirurgia bariátrica, “o desejo de vingança” vem atrelado a um histórico de sofrimento psicológico na relação conjugal. Alguns relacionamentos são marcados por violência física e/ou psicológica, esse tipo de bullying se ocupa de agredir de forma principal o aspecto psicológico da pessoa através de constantes comentários negativos, situações de humilhação para o parceiro e também atitudes que sugiram um rebaixamento do outro. Diante disso, após o paciente atingir o peso desejado e recuperar a autoestima, se percebendo em uma situação favorável, deseja o rompimento da relação.
4 – Qual o melhor caminho para que o paciente se concilie com a nova imagem após emagrecer?

O melhor caminho é administrar as mudanças físicas e emocionais, atenção aos sinais do corpo, fome e desejo, autopercepção, autoaceitação, não internalizar rótulos que estigmatizem e amor próprio sempre em primeiro lugar.

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