Gordofobia nos consultórios médicos: precisamos conversar sobre isso

Marta ouviu da sua endocrinologista que deveria adiar seu casamento, porque se a médica fosse o padre não celebraria a cerimônia, porque a noiva não suportaria ver as fotos do seu casamento.

Já Carla, quando foi fazer uma ultrassonografia, o médico disse que não conseguia encontrar sua veia porque ela era gorda demais.

Frases como essas são ouvidas cotidianamente pelos pacientes obesos nos consultórios médicos. Mas hoje já existe um movimento que busca conscientizar os profissionais de saúde e mudar esse cenário.

No último domingo, o Jornal O Globo publicou uma matéria sobre “Como a obesidade vem deixando de ser encarada pela medicina como fruto de preguiça ou somente comportamental”. De acordo com o artigo, pacientes têm comemorado uma abordagem menos gordofóbica por parte dos profissionais de saúde. Essa é uma notícia para comemorar, já que, muitas das vezes, a abordagem preconceituosa dos profissionais de saúde é um empecilho para o paciente voltar a buscar ajuda médica.

Recentemente, falamos sobre um estudo no periódico International Journal of Obesity onde a prevalência da gordofobia no consultório médico é de 63 a 74%. No mesmo período, realizamos uma enquete com nossos pacientes e 66% dos que responderam, sofreram uma abordagem gordofóbica no atendimento médico.

Doença crônica e multifatorial

A obesidade é uma doença crônica multifatorial, que pode ser desencadeada por fatores hormonais, comportamentais e sociais. O primeiro passo para tratar o excesso de peso de forma adequada, é entender que essa é uma doença, assim como diabetes ou hipertensão, e parar de associar o aumento de peso ao “descuido” e/ou “preguiça”.

É preciso abordar o problema como uma questão de saúde e não como estética, afinal, a obesidade agrava e desencadeia mais de 200 outras doenças associadas a ela. Inferiorizar o paciente não vai ajudar no tratamento para qual ele procurou o profissional. O médico precisa examinar o paciente como qualquer outro para descobrir a raiz do problema que o levou até o seu consultório, e, caso queira abordar a questão da obesidade, trazer isso de forma respeitosa, acolhedora e como uma questão de saúde e qualidade de vida. Há médicos que inclusive perguntam ao paciente se ele quer falar sobre obesidade, antes de abordar o assunto.

A obesidade precisa ser tratada por uma equipe multidisciplinar especializada, focando no paciente como um todo. Mas, para o sucesso do tratamento, o paciente precisa tomar essa decisão de forma consciente e por ele mesmo, lembrando que essa é uma doença crônica que não tem cura e sim controle, por isso é necessário acompanhamento para o resto da vida.

O termo obesidade mórbida está “fora de moda”

Assim como a abordagem gordofóbica vem diminuindo, com o entendimento e tratamento da obesidade como doença, outras mudanças positivas vêm sendo feitas dentro dos consultórios médicos. Antigamente, era bastante comum usar o termo “obesidade mórbida” para classificar o paciente com IMC grau 3. Hoje, o correto é dizer que o paciente é portador da obesidade de grau ‘1 a 3’.

“É necessário ter muito cuidado com as palavras, pois, até aquelas ditas sem intenção, podem machucar. O paciente com obesidade tem muitas feridas abertas. Precisamos ser o mais empático e acolhedor possível. Eu, como um portador da obesidade, hoje em fase controlada, entendo melhor onde dói e tenho lugar de fala com esses pacientes. Mas, muitos profissionais de saúde não têm essa vivência, por isso oriento que acolha sem julgamentos, ouça o que o paciente tem a dizer e explique mais a ele sobre a doença e como ela afeta gravemente a sua saúde e qualidade de vida”, orienta Dr. Daniel Proença, coordenador do Instituto Baiano de Obesidade, médico especialista em obesidade e cirurgião geral e bariátrico.

O único padrão que devemos seguir é a QUALIDADE DE VIDA, mas para chegar até ela, nossa proposta é o tratamento integral e integrado, com uma equipe multidisciplinar que inclui apoio psicológico. Tratamento da obesidade não é apenas o emagrecimento. É conquistar saúde, qualidade de vida e equilíbrio. Não cuidamos de corpos, e sim de vidas.

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O índice de massa corporal (IMC) é um dos parâmetros mais utilizados para classificar sobrepeso e obesidade em adultos. Ele é calculado a partir da divisão do peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado.

Quanto mais alto o IMC, maiores os riscos de doenças como diabetes, hipertensão, apneia do sono, doenças de articulações, entre outras.

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