Reprodução Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
Um recente estudo brasileiro apontou que a cirurgia bariátrica pode ser mais eficaz do que o uso de medicamentos isoladamente para o tratamento de pacientes com obesidade e hipertensão a longo prazo. A cirurgia bariátrica foi responsável pela remissão da hipertensão em 40,9% dos pacientes operados avaliados após um período de três anos, ou seja, eles mantiveram a pressão controlada sem o uso de medicamentos. Nos pacientes submetidos ao tratamento clínico, a remissão foi de 2,5%.
O estudo Gateway – apresentado neste Domingo (17), no Congresso da Associação Americana de Cardiologia (AHA 2019), realizado na Philadelphia, EUA – também constatou que 72,7% dos pacientes operados reduziram em pelo menos 30% o número de medicações que utilizavam antes da cirurgia.
Já no grupo que está passando pelo tratamento clínico, apenas 12,5% conseguiram reduzir o número de medicações, sendo que na média este grupo terminou o terceiro ano tomando três vezes mais medicações anti-hipertensivas, cinco vezes mais estatinas para o controle do colesterol e oito vezes mais medicamentos para o diabetes, comparado ao grupo cirúrgico.
Participaram do estudo 100 pessoas. Destas, 50 foram submetidas a cirurgia de redução do estômago (Bypass gástrico) e outras 50 continuaram com o tratamento clínico.
O estudo Gateway foi coordenado pelo cirurgião bariátrico, Carlos Aurélio Schiavon, e realizado no Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.
“Conseguimos minimizar a não aderência ao tratamento, tendo em vista que quanto mais remédios os pacientes precisam tomar, menor é a adesão ao tratamento. A cirurgia reduz a necessidade de medicações em mais de 70% dos pacientes”, relata Schiavon.
Ele explica que além de controlar a pressão arterial, o tratamento cirúrgico demonstrou melhores resultados em todos os parâmetros metabólicos e inflamatórios.
“Após três anos de monitoramento, os pacientes operados apresentaram excelentes resultados no controle da glicemia que reduziu 14%, do LDL-colesterol (colesterol ruim) que reduziu 29%, dos triglicérides 47% e do IMC que reduziu 28% em relação à fase pré-operatória”, elencou Schiavon.
Outro fator analisado foi a redução da pressão arterial durante a noite, o que representa menor risco cardiovascular.
Os especialistas continuam a acompanhar os pacientes periodicamente.
“Esses resultados do Gateway se somam aos grande estudos mundiais que mostram os enormes benefícios da cirurgia bariátrica e metabólica e que transcendem a perda de peso, resultando na remissão do diabetes tipo 2, da hipertensão arterial, entre outros aspectos”, declarou o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Marcos Leão Vilas Bôas. Ele disse ainda que os benefícios sobre o controle da pressão arterial evidenciados no Gateway explicam porque a cirurgia bariátrica leva a uma redução tão significativa nos índices de infarto, AVC e mortalidade.
HIPERTENSÃO – A hipertensão é uma das principais causas de morte e atinge entre 20% e 35% da população adulta na América Latina. A doença, também conhecida como pressão alta, ocorre quando a pressão do sangue, causada pela força de contração do coração nas paredes das artérias para impulsionar o sangue para todo o corpo, se eleva. A elevação crônica de pressão sobre o sistema circulatório, com o passar dos anos, pode gerar uma sobrecarga no coração que tenta se adaptar inicialmente, porém, com o tempo, se torna dilatado e mais fraco.
De acordo com o cardiologista, Luciano Drager, que participou do estudo, a obesidade aumenta em até 4 vezes as chances de um indivíduo ser hipertenso e de ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto, problemas renais e Diabetes Tipo 2. Ele alerta que, mesmo com a remissão da hipertensão, os pacientes devem monitorar a doença. “Precisamos lembrar que a hipertensão não apresenta sintomas, é uma doença silenciosa”, reforça.
OBESIDADE E HIPERTENSÃO – A última pesquisa Vigitel – divulgada pelo Ministério da Saúde – apontou que 41,6 milhões de pessoas, ou 19,8% da população brasileira, está acima do peso. Destes, um terço, ou 13,6 milhões, possuem IMC acima de 35 e são elegíveis ao tratamento cirúrgico da obesidade.
No entanto, o número total de cirurgias realizadas no ano passado, cerca de 60 mil cirurgias, representa 0,47% da população obesa elegível à cirurgia bariátrica e metabólica no Brasil.
Outro fator apontado pela pesquisa Vigitel é que houve um aumento no volume de pessoas diagnosticadas com Hipertensão. Em 2006, 22,5% das pessoas tinham diagnóstico médico de hipertensão, que aumentou para 24,7% em 2018. No Brasil, o custo da obesidade chega à 2,4% do PIB e está estimado em R$ 84.3 bilhões/ano.
QUEM PODE OPERAR – A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com falha no tratamento clínico realizado por, pelo menos, 2 anos e obesidade mórbida instalada há mais de cinco anos, considerando Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 35 kg/m² e 39,9 kg/m², com comorbidades, ou pacientes com IMC igual ou maior do que 40 kg/m², com ou sem comorbidades Já a cirurgia metabólica é recomendado para pacientes que não conseguiram o controle do diabetes com o tratamento convencional e têm Índice de Massa Corporal entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m².