Um estudo recente publicado na revista PLOS One, aponta que adolescentes brasileiros ainda possuem traços de desnutrição, mesmo obesos. As duas condições estão presentes principalmente nos estudantes de escola pública, onde houve aumento dos índices de excesso de peso nos últimos anos.
Os pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), observaram fatores socioeconômicos associados a desnutrição e obesidade nesses adolescentes. De acordo com os especialistas, a dupla carga de má nutrição – quando a desnutrição e obesidade se apresentam simultaneamente -, afeta uma parcela pequena dos estudantes (menos de 1%).
Esse é o primeiro estudo no Brasil a avaliar estes desfechos nutricionais de forma simultânea, sua prevalência e fatores socioeconômicos associados em um subgrupo da população brasileira. A investigação ainda demonstra que nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas vem acompanhada de maior qualidade nutricional desses adolescentes.
“Nas últimas décadas, inclusive em economias em desenvolvimento, como o Brasil, formas de má nutrição aparentemente antagônicas, como a desnutrição e a obesidade, têm passado a coexistir no mesmo indivíduo”, explica Natanael Silva, pesquisador do Cidacs e integrante do estudo.
Aumento de sobrepeso entre os adolescentes de todos os níveis socioeconômicos
A pesquisa utilizou dados da primeira (2009) e da mais recente (2015) edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), inquérito que investiga doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros. Para isso foram selecionadas informações socioeconômicas desses adolescentes, como escolaridade da mãe, raça, sexo e tipo de unidade escolar dos adolescentes.
Foram comparados os índices nutricionais de estudantes de 13 a 17 anos, separando aqueles que apresentam somente sobrepeso ou baixa estatura daqueles que apresentam as duas condições. A investigação revelou que houve um aumento de sobrepeso entre os adolescentes de todos os níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a desnutrição, revelada pela baixa estatura.
Os adolescentes oriundos de escolas privadas têm maior chance de desenvolver excesso de peso em relação aos estudantes da escola pública. No entanto, essa diferença entre os grupos foi sendo reduzida, e entre 2009 e 2015, enquanto o índice de adolescentes com excesso de peso na rede privada permaneceu inalterável (28,7%), a taxa entre os da rede pública aumentou de 19% para 23,1%.
O estudo também concluiu que um dos fatores associados à dupla carga de má nutrição é a escolaridade da mãe dos estudantes. Os filhos de mulheres que completaram a educação primária revelaram melhores índices de nutrição, apresentando a metade da taxa de dupla carga do que os estudantes cujas mães não finalizaram essa etapa.